Wednesday, September 12, 2012
my name bears no magic,
no vineyard to it, no specific
grammar.
it's easier to write about sad
things, derelict buildings,
burnt wood, old cabinets.
my name holds no place in
it for poetry, for ladders.
Posted at 03:27 pm by pedro tiago
Janela
Thursday, September 06, 2012
doi uma espinha no fundo da boca
onde a lingua nao chega e onde as
pessoas nao tocam nem quando
te amo tanto a garganta com a ponta
do sexo e te engasgas com aquilo que
dizes serem "estrelas" mas, meu amor,
e meita.
estrelas sao entidades mortas que
vao chegando atrasadas aos nossos
olhos, neste planeta.
Posted at 03:30 am by pedro tiago
Janela
Friday, August 03, 2012
ouvimos na qualidade de estrangeiros
logo não falantes nativos da língua
a explicação para fazer aquela actividade
no parque e somos os únicos dois que
na fotografia ficaram com a cabeça
inclinada para a frente quase numa
acção de proximidade para atenção
maior contudo a fotografia não
nos acompanhou quando decidimos
não perder tempo com nada daquelas
coisas tão modernas de actividades no
parque no meio da cidade e decidimos
ir antes ao café da esquina mais próxima
beber chá e vinho tinto e falar do pôr do
sol e dos teus cabelos e dos teus lábios.
Posted at 01:57 am by pedro tiago
Janela
Thursday, August 02, 2012
espero que alguém traga um cão para aqui
"quando, daqui a dois anos, olhares
para mim e para as coisas que disse,
para as coisas que dissémos, que
escrevemos, que jurámos, e em nada
disso encontrares o sangue de agora,
este animal selvagem que corre como
flechas pelo meio das árvores e dos
ossos, promete que não me odeias,
que houve alguma coisa nossa e que
isso merece um lugar na alma, um
magnetismo na alma, que nunca se
desligue, que nunca se apague. houve
aqueles sítios e aquelas mãos foram as
nossas, ainda vão sendo as nossas.
quando o nosso amor não existir mais
e olharmos para aqui é possível que
não vejamos nada. mas, por favor,
meu amor, quando olharmos para aqui
ainda um bocado de nós vai estar
a restar onde é isto. não me feches os
olhos."
não me deixes
um bilhete igual
a este.
Posted at 09:44 pm by pedro tiago
Janela
Tuesday, July 31, 2012
porque encalhou este amor
que estava no centro?
qual a resposta possível
a uma pergunta complicada?
não me apetece pensar
numa resposta para isso,
não me apetece pensar
numa pergunta para isso.
Posted at 02:09 am by pedro tiago
Janela
Friday, July 27, 2012
baptismo de um albatroz de cinza
S.
as pernas ardem um pouco mais abaixo dos
joelhos conforme os teus lábios férteis sussurram
ar contra o tórax destruído. como um tecto
que ruiu, podem-se ver e tocar pequenos
corpos estelares atrás dos ossos, furúnculos,
animais estrangeiros com unhas luminosas,
a dançar ao redor da árvore central do corpo,
a fazer fogueiras rente à coluna vertebral.
os lábios no teu rosto pela primeira vez em
alguém apenas uma ferida feminina, com cheiro
de estames violeta, de nuvens enroladas em
vento azulado. tão teus, os lábios, entreabertos,
com o cheiro, o vazio do cheiro, e as minhas
pernas ardem, o meu fígado, os meus dentes,
as coisas mortas de mim, cabelos, unhas, isso
que está morto mas sobrevive quando morremos
e cresce um pouco, ainda. as tuas pernas ardem
um pouco ainda em torno da minha cabeça e
apertam-me e sufocam-me e quando me lembro
do teu nome não penso em princesas, penso em
serpentes com penugem que esmagam, que
constringem antes de destruirem as presas por
afogamento. as tuas pernas são anacondas que
ardem num amor que não acaba, mas os teus lábios
entreabertos não cheiram a nada remotamente ofídio.
Posted at 03:21 am by pedro tiago
Janela
Wednesday, July 25, 2012
onde é que está a cédula do bicho?
onde os dentes roxos
encostam o esmalte
nas pernas das mulheres
velhas que passam pelas
ruas sem ver que
a construção desmoronou
e onde antigamente era
uma oficina de mármores
e granitos agora são paredes
com placas e sombras
onde os dedos mas mais
que os dedos as pontas
dos dedos são de pais
que levam os filhos para
casas de banho públicas
e gemem em cubículos
ao lado de outros homens
que cagam sem saber.
Posted at 07:45 pm by pedro tiago
Janela
Monday, July 23, 2012
"a logofagia não existe, é um mito, uma ficção."
em mundos diferentes, ou seja, num universo
linguístico que é o teu, que envolve desvios e
teorias mais científicas do que é a cabeça, o
cérebro, de como funcionam as emoções, de
como se explicam, talvez exista a logofagia,
talvez a beleza seja só um gatilho muito
concreto e básico de emoções, de hormonas,
qualquer outra coisa, que tenha a ver com
curvas, com ácidos, com sinapses. no entanto,
sempre que falas, sempre que ris, sempre
que tocas e acaricias e páras no supermercado
porque uma garrafa fazia de contrapeso num
caixote e ele cai para trás da prateleira, isso
tudo é beleza, isso tudo é capaz de salvar todos
os animais que morrem injustamente às
mãos dos homens e das doenças.
Posted at 08:48 pm by pedro tiago
Janela
Thursday, July 19, 2012
fora uma flor e seria
um cardo mas tu
eras uma orquídea
ou pelo menos a tua
cona uma camélia
húmida. eu arranho
contra a pele.
Posted at 08:32 pm by pedro tiago
Janela
estive
"lá"
tanto quanto possível
ao contrário de aqui
onde a ponta dos dedos
toca na base da coluna
vertebral e provoca
um arrepio. onde as
crianças perguntam
"quando dormimos
estamos acordados
noutro sítio?" e as
mães nunca lhes
respondem porque são
apenas vultos
dentro de batas
de aventais
e dessas batas
desses aventais
sobram mãos que
tocam nos olhos
tapam os olhos
inúteis das crianças.
estivémos todos
lá
tanto quanto possível
e ouvimos as vozes
maculadas por uma
ferrugem e por um
resto de mercúrio
e vidro estilhaçado e
quando dormimos
é possível mesmo
que estejamos acordados
noutro sítio. ou então
resta-nos ver como
envelhecem as latas
de metal cuja voz
enferruja despida de
anjos de deuses só
cilindros de metal abandonados
no meio dos elementos
"terra
água
ar
fogo"
sem voz sem nada
sem nenhuma vontade
incapazes. tanto quanto
possível toquei na alma
das coisas e a alma
das coisas magoou-me.
Posted at 12:41 am by pedro tiago
Janela