piso as pedras. os nomes nas pedras não me dizem absolutamente nada mas numa época que já não a minha falaram, moveram-se como me movo sobre as pedras, regaram plantas, tiveram febres, cancros, constipações. noutros poemas li mais ou menos as mesmas coisas, porque é natural pensar-se nisto: as vidas dos mortos. agora são nomes e não me dizem nada, não me comunicam nada - é também por culpa dos dias de hoje, a minha insensibilidade, o meu caroço de simpatia tão difícil de aceder por causa da carne de egoísmo que o rodeia. posso imaginar a vida dos mortos dentro destes muros, o silêncio da vida dos mortos, as suas sombras, os dias em que choveu muito e apanharam doenças, os dias em que morreram porque choveu muito, enquanto os cavalos corriam junto ao rio sem essas preocupações. a minha inutilidade é que se mostra, total e inteira, quando noto que nem sei quem são os mortos, e esses que a minha imaginação ressuscita são só projectos de almas mudas que não pertencem a nenhum sítio. |
Leave a Comment: |